sexta-feira, 30 de novembro de 2018

De Pedro para Ana - Cartas (Resposta)


Não leu a carta que Ana escreveu para pedro? clique AQUI e leia antes

 Carta de ana

Ana, meu abraço.

Li sua carta mil vezes. Ela não sai de meu bolso. 
O envelope já está um farrapo e as palavras amassadas.
Quando sua carta chegou, todos ficaram curiosos. Clara, irmã menos são saiu de meu pé. Toda hora me perguntava quem era Ana. Como responder, se nem eu mesmo sei quem é Ana? 
Tive de fugir de todos. Fui gastar nas ruas.
À noite, quando já estava pegando no sono, apareceu mamãe querendo saber de Ana. Menti. Falei que Ana era invenção de Clara, ou será que é invenção minha? A carta que recebera era da biblioteca do colégio me cobrando um livro emprestado. Minha mãe não engoliu minha história e disse pra eu tomar cuidado com cartas de desconhecidas. Mãe é mãe e é vidente e você sabe disso.
Caí no sonho e a primeira pessoa que apareceu foi você. Estava de biquíni e em Cabo Frio. Só que não havia mar, havia montanhas e montanhas. Um mar de montanhas e você era a única mulher no pedaço. As outras pessoas eram vendedores de picolés, cocos, peixes. Quando me aproximei de você, a montanha virou mar de novo e inundou toda a praia.
Não consigo me lembrar do seu rosto, de seu corpo. Só me lembro da água virando montanha de novo e de uma flor falando meu nome. A flor era você, certamente.
Acordei sobressaltado. Suava. Tentei recompor o sono. Nada. (Em tempo: não conheço o mar, nem Cabo Frio. Só sei que mar é um mundão de água escorrendo pelo planeta Terra.)
A água lavou meus olhos e sono viajou pro mar. Lembrei de sua carta. Fui ao banheiro, tranquei a porta. Era madrugada. E enquanto o dia não clareava, pude beber suas palavras ao som de passarinhos madrugadores. Mas uma dúvida me assaltou. Sou desconfiado, matreiro, mineiro e me perguntei: "Será que Ana existe de verdade ou é uma gozação de algum sacana?".
Matutei bastante. Até cocei a cabeça e pus a mão no queixo como os filósofos gregos. E resolvi e resolvo bancar esse jogo. E digo para mim: "Sou brinquedo nesta dança, barbante neste pião e quero ser feliz". E em paz comigo, faço de conta que tudo é verdade e entro de asas abertas nesta aventura. Neste enredo.
Malu é uma querida maluca que tem mania de me achar baixinho. Na verdade, não sou alto, talvez nem serei. Malu é grandona e acha que todo mundo deve ser do seu tamanho. Coisas de gente grande. Já minha mãe acha que esse negócio de altura é competição de gente besta. Diz pra todo mundo ouvir: "Homem não se mede com régua. Não é arranha-céu, Corcovado, Ponte Rio - Niterói. Homem tem que ser é macho, honesto, trabalhador, o resto é conversa fiada". Aí tenho que concordar com ela. E mãe é mãe e você sabe disso.
Você me pergunta se gosto de alguma coisa (olhe que estou embarcando em sua viagem. Se você for de mentira, juro que te mato). Gosto de muitas coisas e detesto outras tantas. Sou vidrado em futebol. Gosto de futebol como se gosta de sorvete e de beijo no escuro do cinema. Futebol é a minha paixão. Qualquer dia desses arranjo coragem e vou treinar no meu Atlético Mineiro. Chego lá todo posudo e digo pro Zé das Camisas, o "treineiro": "Me dá a camisa 9 e teremos gols pro resto da vida". Sonhar é bom e travesseiro é barato.
Afinal tudo é sonho, tudo é mel.
Os outros segredos ficam para o futuro. A sua existência ainda é mistério.
Na incerteza de sua resposta fica o meu abraço e meu adeus,

Pedro



2 comentários:

  1. Um dos melhores blogs para quem gosta de leitura, continua assim garoto, tu eh muito bom com as palavras. Att: joao

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado João, ah espero um dia chegar lá e obrigado pelo apoio também!

      Excluir